31 dezembro 2012

Melancolia

1985

Quando nasci, a mulher que me concebeu me deu. Simples assim. Como se eu fosse um nada, um objeto de pouco valor. Talvez, quando ainda era um feto, eu estava sendo alimentado de ódio e tristeza. Era aconchegante mesmo assim. Mas deve ter sido complicado a mudança de ambiente... Um recém-nascido acostumado a um cheiro, um sentimento, um habitat, ser entregue a uma mulher com sentimentos diferentes. Algo chamado de felicidade. E assim que cheguei em casa conheci meu grande amor: a melancolia.
Da minha primeira rejeição, ela me acolheu e ficou comigo. Até hoje.

2k12

Ela sempre me acompanha onde quer que eu esteja. Na praia, no bar, no ônibus, no metrô, na faculdade, no trabalho e principalmente no meu quarto. Onde ficamos nus. Lá dentro eu me torno vulnerável e ela me seduz como ninguém. Ela abre as pernas e eu a penetro. A sensação é sempre a mesma: tristeza, neutralidade, anulação. Ela suga o pouco do meu gozo e eu costumo ficar na cama, fraco, olhando para o teto, pensando na vida e em como me livrar dela.

Ficamos separados por algum tempo entre 2006 e 2010, mas ela voltou. Sorrindo, como se soubesse que eu nunca a deixaria. Temo que isso seja uma verdade.
No início eu a via como um incômodo, porém hoje em dia eu me vejo cômodo. Nos conhecemos muito bem. Eu adivinho os momentos em que ela surgirá. Às vezes, nos vários momentos de tédio, eu clamo por ela.

Em 2008 tivemos uma briga feia, onde ela quis voltar, mas neguei sua presença em minha vida. Flertei com a depressão. Mulher forte, astuta, sagaz. Me derrubava na cama e ficava horas comigo pedindo mais e mais. Tinha vezes até que eu chorava. E ela gostava. Sempre foi superior.
Recomecei a terapia e me afastei dessa mulher. Ela não gostou, disse que voltaria, que eu imploraria e a desejaria por perto. Até hoje, graças a algum ser grandioso, não quis sua volta.

Mas a melancolia...



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